A volta às aulas se aproxima e com ela, um sentimento dúbio vai tomando conta de muitas mães. Para mim, que já tenho dois filhos em fase escolar, esse retorno vem como um bálsamo na minha vida.
Representa a retomada da rotina, a tranquilidade de não precisar mais envolver diversas pessoas em uma rede de apoio para ficar com eles durante este período, já que tanto eu como meu marido retomamos nossas atividades profissionais logo após o réveillon.
E tenho certeza que este mesmo sentimento é compartilhado por muitas mães, pais e famílias, já que muitos de nós não temos como ficar todo o período de férias com os pequenos curtindo praia, passeios e piscina. Acho que a última vez que tive três meses de férias eu ainda era criança.
É impressionante como faltam opções para as crianças de dezembro a fevereiro. Os projetos de férias são curtos e o investimento alto para tão pouco tempo. E as crianças acabam alternando seus dias entre casa dos avós, dos dindos, dos amigos e assim seguimos, de casa em casa até o início escolar.
Por outro lado, existe um outro grupo de mães que sofre demais com a chegada do início das aulas. São aquelas mães que vão deixar seus filhos na escolinha pela primeira vez. Como é difícil essa separação depois de um longo tempo com o bebê. Lembro bem dos dois momentos em que passei por este sentimento, por vezes, aterrorizante.
O primeiro desafio foi a escolha da escola ideal. Foram inúmeras visitas até encontrar uma que tivesse todos os requisitos que considerávamos adequados para receber nossos pequenos. Ainda mais no meu caso, em que os meus filhos foram para a escola antes dos quatro meses. Foi muito complicado ter a segurança necessária para deixá-los aos cuidados de pessoas estranhas, por mais indicações que tivéssemos.
Depois de escolher a escola, chega o tão temido período de adaptação. Hoje, com um pouco mais de maturidade, percebo que é muito mais difícil para nós do que para eles. Eu ficava na recepção, com os ouvidos atentos ao menor sinal de que eles não estivessem bem. Cada chorinho era um arrepio, sofrendo com a menor possibilidade de que eles estivessem sofrendo, sentindo a minha falta ou estranhando a nova rotina.
Mas em poucas semanas, estavam adaptados e as despedidas ficavam mais suaves e menos dolorosas a cada dia. Não demorava muito para que eles se atirassem no colo da “profe” e dessem tchau com aquelas pequenas mãozinhas, me deixando tranquila e ao mesmo tempo, morrendo de ciúmes. É difícil para uma mãe perceber que seu filho pode gostar muito de outras pessoas, ainda mais quando eles vão passar mais tempo com estas pessoas do que conosco.
Como tudo na vida, este sentimento é algo passageiro e em meio a este sofrimento natural, começamos a nos voltar para nós mesmas novamente. Retomar a carreira, abrir espaço na rotina para voltar a fazer uma atividade física, ter mais tempo para nós, nossos parceiros e nossos amigos. E com o tempo, vamos gostando tanto dessa rotina onde ficamos mais leves, que passamos a encarar a despedida como algo proveitoso e necessário. Para nós, mas principalmente para nossos filhos, que em contato com outras crianças desenvolvem outras habilidades, exercitam a socialização, aprimoram a fala e conquistam mais autonomia.
E passada esta fase, logo, logo vai chegar o momento que vamos estar ansiosos pela volta às aulas novamente.
Lola Carvalho é publicitária, jornalista e autora do livro “Mãe Sem Limite”.