A adolescência pode ser uma espécie de luto | Por Lola Carvalho, escritora e publicitária

Se você tem um filho pré-adolescente em casa, vai me entender. Se você ainda não tem, este relato pode te ajudar a estar mais preparada para quando este momento chegar. E eu posso te garantir, vai chegar mais rápido do que você imagina.

Sou mãe de um menino de onze anos. Na minha cabeça, ele seria o meu menino para sempre. Apaixonado por mim, me enxergando como a sua pessoa preferida, como a sua princesa. Para mim, ele sempre caminharia comigo de mãos dadas pela escola, todo orgulhoso e me contaria tudo: como foi seu dia, quem correu mais rápido no pátio, quem brigou, quem levou bronca da professora, quantos gols ele fez, quem são seus melhores amigos.

Na minha fantasia – quase adolescente – de mãe, ele sempre me acharia a mais linda, a mais poderosa, a mais divertida, a que faz as melhores comidas. Buscaria minha mão na hora de dormir e meu olhar, quando se sentisse inseguro. Eu sempre ocuparia este lugar de protagonista na vida dele. Eu sempre seria a dona do campinho. Mas já faz um tempo que tenho me dado conta de que perdi meu trono. Passei de princesa à bruxa má. Virei uma chata. Uma reclamona. Eu não entendo nada. Eu não sei de nada.

A chegada da adolescência é uma espécie de luto. O adolescente está se despedindo do corpo infantil, dos seus antigos interesses, da sua forma de ver o mundo. Mas principalmente, ele se despede dos seus pais da infância, daqueles pais que eram seus melhores amigos. Os pais, por sua vez, se despedem do filho criança. Daquele filho doce, que quase sempre obedecia, que fazia tudo sem questionar muito, que não tinha vergonha de demonstrar amor, que sempre tinha tempo para eles.

O lugar de melhores amigos passa a ser ocupado pelos – veja bem – melhores amigos do adolescente e o mundo dele passa a ser o seu quarto, uma zona neutra, onde ele pode enfim, lidar com todas estas transformações sem a interferência dos pais. A bagunça do quarto, que rende tantas broncas, é o reflexo da sua bagunça interna. E por isso, fica tão difícil se aproximar. Adolescentes buscam seus iguais. Precisam se encaixar, pertencer a um grupo. Nesta fase, os amigos são o ponto de apoio. Estão na mesma fase, têm os mesmos assuntos, sentem o mesmo. É muito mais fácil dialogar com eles. Os pais são old schoool. Estão ultrapassados.

E não adianta usar memes da moda e tentar fazer a mãe modernex, que não vai colar. A abordagem tem que ser outra. É um exercício diário de puxar e soltar. Dar espaço para a introspecção do quarto, mas trazer de volta para a sala, de vez em quando. Se aproximar e se afastar. Perguntar e fazer de conta que não tem tanto interesse assim. Mas o mais importante, na adolescência é preciso ressignificar o nosso papel de mãe, de pai. Nos mudar para outro lugar, que continua sendo de crucial importância, mas agora com uma via de mão dupla. Talvez a última palavra não seja mais a sua. Talvez todos aqueles valores e regras e normas que você ensinou para o seu filho, vão ser fortemente questionados.

Mas uma coisa é certa: não importa o que aconteça, não importa o quanto ele mude, o seu amor não vai mudar e você sempre vai estar lá para ele. E ele sabe disso. E é isso que fará com que ele passe por todas estas transformações com mais confiança e possa ir para a próxima fase.

Lola Carvalho é publicitária, jornalista e autora do livro “Mãe Sem Limite”.

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