#maternidade | 5 perguntas para: Lau Patrón, autora de “71 Leões”

“João Vicente: menino valente; doçura infinita. Diagnosticado com SHUa desde 2013, se recupera de um AVC”.

Este é o brevíssimo resumo de uma história de alguns anos, cheia de dores, descobertas e coragem, narrada pela mãe, Lau Patrón, no perfil Avante Leãozinho. João tinha 1 ano e 8 meses quando teve a primeira crise provocada pela Síndrome Hemolítica Urêmica atípica (SHUa), doença rara que provoca falhas no sistema imunológico. Sua história tomou conta das redes sociais, virou tema de reportagem em muitos veículos – como Revista Crescer e capa da Revista Donna – e saiu do digital para o papel. Com muita sensibilidade, Lau lançou o emocionante livro 71 Leões, obra que toca fundo a alma de qualquer mãe, por sua verdade na narrativa e pela identificação com temas como amor, dor e renascimento.

A seguir, confira o papo do Mommys and Babys com Lau, a sexta parte da série de entrevistas “5 perguntas” sobre maternidade.

1 | Quem era você antes e depois da maternidade?

São duas mulheres completamente diferentes, é difícil essa pergunta. Olhando de onde estou hoje, eu era uma menina que se achava mulher, que se achava forte, com sonhos sem muito sentido, desconectada de mim mesma e vivendo uma vida cheia de privilégios, sem nenhum interesse em entender o que isso significa. Por ignorância. A maternidade me trouxe para um lugar de muita humildade perante a vida e perante os outros, muita gratidão também. Brinco que o João me levou de mãos dadas de volta até mim mesma, e eu aprendi muito sobre o amor, a força, a coragem. Hoje, depois de me quebrar em mil pedacinhos, me sinto muito inteira. Mais potente, mais consciente. Bem mais capaz de ser feliz.

2 | Qual a sua maior alegria e o seu maior desafio no atual momento de vida?

Ser inteira na minha maternidade e ao mesmo tempo ser inteira como profissional.
Mesma resposta para ambas.

3 | Como ficou a relação com a SUA mãe depois que você teve filhos?

Em um lugar muito melhor. De compreensão e respeito pelo que ela pôde fazer. Essa é uma relação muito exigente, que facilmente nos tira muito do que temos. Hoje entendo como é difícil ser mãe e manter a sua individualidade como mulher, ser humano, com nome próprio. Isso me fez olhar pra ela e pra nossa história com mais afeto. Todos os dias eu acordo querendo acertar com o João, e em muitos deles falho mesmo assim. A maternidade, na nossa sociedade, é uma constante exigência do impossível. Precisamos mudar esse olhar, a começar entre nós mesmas. O possível, a intenção, a energia de transformação constante que movemos. Essa é a parte bonita. E real. Minha mãe é uma mulher incrível, uma avó maravilhosa, uma mãe em constante mutação, e eu admiro ela por tudo isso.

4 | Com que frequência você quebra seu ideal perfeito de maternidade?

O meu ideal perfeito de maternidade é a presença com atenção plena, o afeto consciente e a escolha diária de tentar. E tenho quebrado mais com isso do que gostaria nos últimos meses, principalmente a parte da atenção plena, iniciando uma nova fase profissional e tentando equilibrar. Mas acho que ando bem, sabia? Fico avaliando e reavaliando isso, olhando para a nossa conexão que é muito forte, fluída, amorosa. No ideal perfeito de maternidade mais coletivo, do olhar de uma sociedade machista e que deseja que as crianças se encaixem em padrões, devo quebrar o tempo todo. Umas 67 vezes por dia, talvez. Ainda bem.

No aniversário de 7 anos do João

5 | O que você gostava de fazer quando era criança que tenta repetir com seus filhos?

Sempre fui muito livre (e adorava aventuras) e sempre fui incluída nas coisas da vida familiar – como um ser pequeno, mas não como um ser incapaz. Repito as duas coisas com o João. O fato dele ser cadeirante foi um desafio no começo: como vou fazê-lo sentir o que eu sentia subindo em uma árvore, fazendo trilhas, os nos meus primeiros nados livres no mar? Desde então descobri muitas formas, e tenho a sensação que vamos ter uma vida inteira de descobertas juntos, nesse e em tantos outros sentidos. Conversamos muito, o tempo todo (e ele fala pouquíssimas palavras depois do AVC), do nosso jeito. Falo com ele sobre o mundo, a vida, as pessoas, certo e errado, o que sinto, as estrelas. Temos umas conversas bem profundas às vezes. Em outras, gargalhamos muito. Rimos um do outro. Rimos de nós mesmos. Acho bom. Me lembro sempre que ele é apenas um ser pequeno, menor do que eu agora, mas que me ensina todos os dias, com uma sabedoria sutil que é preciso estar presente e atenta para compreender. E deixar sentir. Maternidade também é permissão.

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