Se uma mãe é super-heroína, não precisa de um super-pai ao lado? | Por Débora Laks, psicóloga

Era um almoço de um domingo ensolarado, restaurante muito acolhedor em meio a natureza da Serra Gaúcha. Adentro o banheiro e uma mãe troca uma bebê de aproximadamente dez meses. Logo ao lado, na privada, seu filho (de uns 3 anos e meio) está sentado no vaso se segurando na tampa para não cair.

O menino pede para ela limpá-lo, no entanto está trocando a bebê. Pergunto se posso ajudar e ela responde: “Obrigada! Sabe como é, mãe é mãe! A gente pode até ficar cansada, se trancar um pouco no banheiro e chorar, mas logo passa!”. Após esta breve conversa surge o pai das crianças e a salva! A menina é levada e o menino pode ser limpo! Ufa!

Quem aí se identifica com a situação? Quem vai dar uma chorada no banheiro pelo estresse do acúmulo de atividades?

Frente a esta narrativa e em pleno mês dos pais, nada mais válido do que refletir sobre o lugar que nós, mulheres, designamos para eles. A pressão para ser mãe super-heroína já é garantida pelo cenário social, porém a figura do super-pai é construto recente.

Se eu sou uma mãe super-heroína preciso de um super-pai ao lado? A nossa personagem demonstra ao ir com dois filhos pequenos ao banheiro que não! Contudo no decorrer da cena a super-capa cai!

É muito comum esta expressão “mãe é mãe” e, certamente, temos muitos méritos no exercício da maternidade. A dúvida que se estabelece é o peso que este discurso pode significar na rotina. Se “mãe é mãe”, ela precisa ter tentáculos de polvo para dar conta de tudo ao mesmo tempo? Será que o pai que surge no decorrer da história não poderia ter sido requisitado antes?

Talvez ele não se dispusesse. Talvez poucos tenham condições de antever as necessidades familiares antes das mães pedirem. Ainda assim, ouso considerar que acabamos fazendo demais! Muitas vezes por ser tão natural para nós anteciparmos o porvir da rotina, esquecemos de assinalar que gostaríamos de respirar um pouco.

A construção da paternidade além de ser menos exigida na história da humanidade (ainda que esteja mudando, o registro ainda é este), também o vínculo materno se cria desde a barriga e costuma nascer uma empatia gigante juntamente com o bebê. O pai chega nesta relação depois! E tem de ser incluído na dupla pela mãe para, então, fazer parte desta dinâmica.

Via de regra os pais não têm a mesma forma que as mães de realizar as tarefas. São diferentes e, mais do que nunca, viva as diferenças. Se “mãe é mãe”, “pai é pai”! Então meu convite hoje é para que asseguremos o lugar dos pais! Alguns podem não estar dispostos a tal papel (e haja fôlego para as mães solo),mas sejamos incentivadoras daqueles que estão tentando desempenhar sua função da melhor forma.

A divisão de tarefas em uma família tende a trazer bons frutos. Mães que choram menos nos banheiros da vida são mais tranquilas e felizes com seus filhos. Que sejamos Mães e os pais, Pais!

Débora Laks é psicóloga graduada pela PUCRS (CRP 07/15330) com experiência em atendimento de adultos, pais-bebês e infantil. Estuda a psicanálise e o psiquismo humano. Especializada em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica de Adultos pelo CELG/UFRGS e Psicoterapia da Infância e Adolescência pelo CEAPIA. 

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