Respeite o tempo do seu filho | Por Lola Carvalho, escritora e publicitária

 

Tenho dois filhos em fases bem diferentes. O mais velho, prestes a fazer onze anos e o caçula, com cinco. Ando refletindo como nós, os pais (aqui leia-se pai e mãe), muitas vezes queremos que nossos filhos andem no nosso ritmo, ignorando que eles são indivíduos e têm seu próprio tempo.

Se existe algo que a maternidade me mostrou, de forma nua e crua, é que nossos filhos não são como nós idealizamos. Pode parecer uma afirmação dura, mas é a mais pura verdade. Ainda na gestação, ficamos divagando sobre as expectativas de como seriam e como gostaríamos que fossem.

A grande maioria de nós sonha com um bebê que durma a noite toda, que não chore muito, que não tenha cólica, que seja calmo, e muitas outras expectativas que vamos colocando, ignorando um fator crucial: nós não controlamos nada! Depois, quando finalmente nos conhecemos, estas nuvens de expectativas que criamos vão se dissipando e dando lugar para o real, que quase sempre é bem diferente do que idealizamos.

Então percebemos que não tem problema nenhum ser assim. Que o amor que sentimos é tão maior, que se precisarmos passar noites e noites tentando fazer o bebê dormir, passamos. Se tivermos que fazer compressas quentes para acalmar a cólica fazemos, se tivermos que limpar o vômito logo após colocar a roupinha limpa, limpamos.

Mas à medida que o tempo passa, vamos criando novas expectativas e voltamos a querer controlar tudo. Se ainda não sentou, nos preocupamos, porque o bebê daquela amiga já senta. Se ainda não andou, ficamos aflitos, porque várias amigas já postaram vídeos de seus bebês dando os primeiros passinhos.

Comigo não é diferente. Quando demos a primeira bicicleta para o mais velho, erramos ao comprar um modelo um pouco maior. Ele tinha uns sete anos e no primeiro passeio, ainda usando rodinhas, caiu e nunca mais quis olhar para a tal bicicleta outra vez. Ficamos decepcionados e de tempos em tempos, tentamos convencê-lo a pedalar. Usávamos todos os tipos de argumentos: seus amigos todos andam. Quando tu crescer, vai ficar com vergonha de não saber andar. Vamos dar a tua bicicleta para outro menino que dê valor.

Eu ficava pensando nos vídeos dos pais ensinando os filhos a andarem sem rodinha e no fato de que não teria esta lembrança. E não é que com dez anos (para verem como a bicicleta era grande) ele foi no aniversário do primo e aprendeu a andar de bicicleta? E se apaixonou pela dele, que estava há anos abandonada na garagem.
O mais novo está passando pelo tão temido desfralde noturno. Mais uma vez, na ansiedade de tirar as fraldas forçamos a barra e acabamos começando antes da hora. Perdi as contas da quantidade de escapes, inclusive no inverno. Tentei colocar a fralda de volta, mas aí ele não queria voltar a ser “nenêm”, então, seguimos em frente. Dia sim, dia não, escapava um xixi. E cá entre nós, esta fase é muito desgastante.

Mas de algumas semanas para cá, nos mudamos, ele ganhou um quarto só para ele e, de repente, os escapes estão diminuindo. Fico pensando que, muito provavelmente, agora é que ele está ficando maduro para passar esta etapa. Então, vamos cuidar com as nossas expectativas. Vamos abandonar um pouco a falsa sensação de controle e deixar com que nossos filhos possam ser eles mesmos, evoluindo e crescendo dentro da sua individualidade. O tempo passa tão rápido e ficar tentando moldá-los à nossa vontade só nos distancia de poder aproveitar a sutileza deste desenvolvimento e desta troca, que acontece um pouquinho todos os dias.

 

Lola Carvalho é publicitária, jornalista e autora do livro “Mãe Sem Limite”.

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