Adaptações e readaptações escolares: como lidar? | Por: Débora Laks, psicóloga

Estamos quase retornando as aulas e neste período é comum haver algumas turbulências nas famílias com crianças. Quem ainda não está na escola pode começar neste momento. Os que já estão freqüentando, retomam a rotina agora. Todo este movimento de adaptação e readaptação pode gerar muita ansiedade e questionamentos.
Adaptar um filho pequeno na escola requer energia e confiança. Atualmente, a maioria dos pais começam a adaptação com os bebês ainda pequenos, no máximo aos 2 anos de idade. Nesta etapa é comum manifestarem ansiedade de separação, visto que ainda estão se individualizando. Logo, são freqüentes os choros, a angústia ao dizer tchau ou ao se afastarem dos pais.
Toda a ideia de que seria um lindo passo a entrada na escola pode se estremecer devido a insegurança que a criança manifesta. As mães costumam se perguntar: “Será que é o momento certo?”. A insegurança pode tomar conta de todos, já que se identificam com o bebê.
Mais um aspecto que surge nesta hora é o luto pelo bebê que está crescendo. O tempo que foi embora e não volta mais. Pode ser difícil sustentar a criança que está nascendo. Preparamos-nos muito para gestar, parir, mas quem se prepara para deixar o bebê crescer?
O que significaria, afinal, permitir que o bebê cresça? Deixar o bebê ir adiante quer dizer acreditar na sua potência enquanto indivíduo. Esta é a base da edificação da autonomia e da auto-estima.
Também, a entrada na escola pode gerar o medo de perder o controle, já que ao entrarem na escola, as crianças passam a não ter mais um vínculo exclusivo com os genitores. A relação que, inicialmente, é apenas entre pais e bebê passa a se abrir para a comunidade. Ainda, pode haver o receio de ser avaliado. Este momento é um marco, a primeira passagem do privado para o público.
Mesmo para as famílias que estão retomando na escola e já passaram por este processo uma vez, podem surgir desconfortos. O início do ano letivo pode trazer a baila dificuldades em relação à aprendizagem e conflitos de relacionamento escolar. As adversidades que surgiram no ano anterior retornam e isto pode ser incômodo. O que fazer? Só vejo uma solução: enfrentar! Buscar alternativas com a escola, tentando sanar as adversidades. Acolher os contratempos e procurar alianças para resolver é fundamental.
Bowlby, um importante psiquiatra infantil e psicanalista, estudou durante diversos anos sobre a importância do apego seguro na primeira infância para as relações futuras das crianças. Denomina apego seguro os contextos nutritivos e de bons tratos. Lembrei da Teoria do Apego para pensarmos se a adaptação escolar não seria justamente a continuidade de um vínculo de segurança? Quando entregamos nossos filhos a uma escola, estamos confiando que o ambiente escolar possa ser um espaço seguro, para além do mundo familiar.
A criança que nota que seus pais estão criando um laço consistente com a escola, passa a depositar nos professores segurança. Esta experiência é fundamental para o seu desenvolvimento emocional, pois inaugura o convívio social. Poder avaliar como você está compreendendo toda esta situação é essencial para seu filho passar por ela da melhor forma possível. A união escola e família têm muita força! A educação certamente é uma ação compartilhada.

Bom ano letivo a todos!

Débora Laks é psicóloga graduada pela PUCRS (CRP 07/15330) com experiência em atendimento de adultos, pais-bebês e infantil. Estuda a psicanálise e o psiquismo humano. Especializada em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica de Adultos pelo CELG/UFRGS e Psicoterapia da Infância e Adolescência pelo CEAPIA. 

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